quarta-feira, 31 de agosto de 2011

— Que que foi? — perguntou, lenta. E esse era o tom que indicava a abertura para um novo jeito. Mas ele tossiu, baixou os olhos para a estamparia de losangos da toalha. Vermelho, verde. Plástico frio, velhos morangos.

— Nada, mãe. Não foi nada. Deu saudade, só isso. De repente, me deu tanta saudade. Da senhora, de tudo.

[cfa]
*deu saudade de casa :(

Tô tão só, Zézim. Tão eu-eu-comigo...


[cfa]

...
*eu-eu-comigo.
poderia ser eu-com-os-outros, mas eu nunca soube muito como ser assim.
Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos.

[cfa]

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma das palavras mais frustrantes da linguagem humana, até onde sei, é amor. Tanto significado atribuído a essa única palavrinha... As pessoas falam nela livremente e a todo tempo, usando-a para descrever seu apego a bens materiais, bichos de estimação, destinos de férias e comidas preferidas. Às vezes, numa mesma frase, empregam essa palavra também para a pessoa que consideram mais importante em suas vidas. Isso não é absurdo? Não deveria haver outro termo para descrever uma emoção tão profunda? Os humanos são muito preocupados com o amor. Todos estão sempre desesperados para formar um vínculo com uma pessoa a quem possam se referir como sua "alma gêmea". De acordo com o que li na literatura, parecia-me que estar apaixonado significava ser o mundo inteiro da pessoa amada. O resto do Universo era insignificante comparados aos amantes. Quando estavam separados, cada um entrava em estado melancólico, e apenas quando se reuniam seus corações tornavam a bater. Só estando juntos poderiam realmente ver as cores do mundo. Uma vez separados, aquela cor sumia, deixando tudo cinzento e nebuloso. Eu ficava na cama me perguntando sobre a intensidade dessa emoção que era tão irracional e tão irrefutavelmente humana. E se a fisionomia de uma pessoa fosse tão sagrada para você a ponto de se increver permanentemente em sua memória? 


[Bethany, em Halo / pág: 20]

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém.
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim.


[William Shakespeare]


...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Acho que não precisava ser assim. É tudo tão forte, tão profundo, tão bonito, não precisava doer como dói. Eu não podia apenas sorrir quando me lembrasse de você?

[cfa]
Onde quer que eu vá, o que quer que eu faça
sem você não tem graça...

(Capital Inicial)

domingo, 7 de agosto de 2011

Acho que é bonito existir em alguém do jeito que você existe em mim.

(cfa)

...

sábado, 6 de agosto de 2011

Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido. Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram.

[cfa]

...
*acordei tão triste, tão sozinha, que só queria entrar pro banho e deixar cair as águas... fiquei ouvindo música enquanto elas caiam, se misturavam... primeiro tocou
chorei, chorei e chorei enquanto as músicas tocavam, na esperança de sair dali melhor. não adiantou.
não tá adiantando.
não tem adiantado.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação.

(Mário Quintana)

...
*foram poucas as vezes em que li uma coisa TÃO certa numa hora tão oportuna.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Round my hometown
Memories are fresh
Round my hometown
Ooh, the people I've met
 
[Adele]

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

E então? Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo?
Meu palpite: dentro de um abraço.

(...)
Dentro de um abraço nenhuma situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.

O rosto contra o peito de quem te abraça às batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.


[MM]

...
Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.

[cfa]
Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro — e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.
Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos ou precauções — úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu — sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques — tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas — coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. E isso mesmo; evasão, escapismo assumidos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema., Mudar de assunto digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.


[cfa]