segunda-feira, 28 de março de 2011

E lá está você anotando no caderninho mental tudo o que aquela pessoa gosta, quer e espera de alguém, e sendo. Sendo aquilo que você faz força para ser, porque você sabe que ser apenas você mesma, é ser alguém que troca os pés pelas mãos e que sempre acaba boicotando suas próprias vontades. Ser você mesma é o que há de mais imperfeito em toda sua essência.
Lá está você sendo perfeita em vão, sendo perfeita para que ninguém veja, sendo perfeita para alguém que não precisa da sua perfeição. Você se esforça ao seu máximo, mas a sua perfeição e o seu máximo nunca são o suficiente.
E cansa. Cansa demais demorar um mês inteiro para ser perfeita, e em questão de segundos ser jogada o mais longe possível. Cansa demais se perguntar onde tudo desandou. Cansa demais não aceitar que tudo tenha desandado. Cansa demais se culpar, culpar os outros, culpar alguém. Cansa demais ser perfeita em vão.
Você finge que não se importa, e isso também cansa demais. Você tenta não esperar nada, mas você ainda está parada na mesma estrada em que te deixaram esperando por alguém que não vai voltar. Mas você continua a esperar. E então o bichinho da esperança começa a ser esmagado pelos dias de espera. Dias que viram semanas e semanas que viram meses, e você se recusa a esperar que os meses virem anos. Mas essa espera já não depende mais de você. Essa espera depende daquilo que você abafou por tanto tempo com a sua enorme vontade de ser perfeita.
E que merda é ser perfeita. Que merda é esconder os erros do outro debaixo do tapete, mas se martirizar por um vida inteira pelos seus. Que merda ter que aceitar que acabou. Quer merda ter que dar a volta por cima. Que merda não achar o botãozinho interno que decretaria o fim, sem volta, sem retorno, sem a bosta de esperança. Que merda não conseguir ser perfeita para você mesma.
As pessoas caem nas frases feitas, nas ilusões criadas por elas mesmas, nos medos mais internos e em suas enormes vontades nunca saciadas. Porque dessa vez pode ser diferente. Dessa vez, você se preparou. Mas a verdade é que quando a dor diz “Querida, cheguei”, todo o preparo sai pela porta dos fundos.

[Marina Mello]

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